quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Epifania sobre os cheiros ou coletânea sobre odores


" Odores, mais frequentemente do que qualquer outra sensação, transmitem uma mensagem para o consciente, pouco deteriorada pelo tempo, despidas das irrelevâncias do momento ou dos anos que se passaram, aparentemente viva e nada mais do que convincente"- Roy Bedicheck " The Sense of Smell"
                                                                            
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Não é a visão, a audição, o tato, nem mesmo o paladar- tão intimamente relacionado ao olfato- nenhum outro, somente o nariz evoca dos lugares mais profundos, com tanta veracidade, as materializações distantes e cinematográficas que chamamos de memória!
" Alguém encontra um frasco, e de uma borrifada, um espírito agora renovado e vivo se derrama. Mil idéias adormecidas, lúgubres e crisálidas. Tremendo nas sombras como jovens borboletas, que se põe a voar, as asas enrugadas se abrindo, em tons de azul, sopros de rosa, e faíscas de dourado" - Charles Baudelaire - " O Frasco"


 " Odores podem atrair ou repelir fortemente, o que lhes atribui poderosas metáforas de bem e mal. Odores são também etéreos, não podem ser agarrados nem contidos; em sua intangibilidade, transmitem simultaneamente o sentido da presença e da ausência misteriosa de Deus. Finalmente, odores são inefáveis, transcendem nossa habilidade de defini-los através do idioma" - Constance Classen- historiador cultural

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"Ele viu que não havia qualquer estado de espírito que não tivesse seu correspondente no mundo dos sentidos, e se pôs a descobrir a verdadeira relação entre eles, imaginando o que haveria no olíbano que faziam com que as pessoas se sentissem místicas, no âmbar cinzento, que mexia com a paixão das pessoas, nas violetas, que despertavam memórias de um romantismo que não existe mais, e no almíscar, que perturbava a mente. - Oscar Wilde - " O retrato de Dorian Gray"


Os odores provocam forte sensações em nós, não controladas pela razão.
Por esse motivo o olfato tem sido há muito tempo celebrado pela literatura.
Baudelaire ( As flores do mal), Oscar Wilde ( Retrato de Dorian Gray),  Ítalo Calvino ( The name, the nose)...poderiam ser definidos como romancistas olfativos.
Os odores abrem uma interseção entre o mundo metafísico e o físico. É a existência destas características, vagas e ao mesmo tempo específicas, que levou vários escritores a escrever sobre o olfato como sendo o sentido da imaginação. Nenhum sentido tem poder de invocar memórias com repercussão emocional profunda e abrangente como o olfato.
Odores são, portanto, capazes de controlar nossa vida emocional
" Um perfume pode afogar anos no aroma que recorda" - Walter Benjamim....



Imagens: pinterest
Referências: Essências e Alquimia - resenha do livro de Mandy Aftel

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Perfumaria Botânica



Desde tempos remotos, as pessoas encontram prazer em esfregar substâncias aromáticas na pele.
O perfume sempre ajudou pessoas a rezar, curar, fazer amor, preparar-se para morte, criar.
A inspiração, enfim, está ligada ao ato de inalar
As essências aromáticas eram artigos de luxo e refinamento altamente valorizados no mundo antigo, e grande parte das rotas comerciais se desenvolveram graças às buscas incessantes por ingredientes aromáticos. Navios traziam canela da África, cardamomo da Índia, gengibre, noz moscada, açafrão e cravo da Indonésia. Eram especiarias cobiçadas para integrar rituais religiosos, remédios e para perfumar o corpo.

" Coloridas, instáveis, sutis e caras, as essências naturais eram uma amante difícil que exigia atenção exclusiva e disposição para abandonar as regras. Nunca ofereciam o conforto de um relacionamento estável, previsível, e sua complexidade inspirava muitos dos que trabalhavam com essas essências a filosofar sobre a relação do perfume com outros aspectos da vida"


Um século depois, nossa sensibilidade olfativa foi marginalizada e amortecida pela invasão química da comida e no meio ambiente, e pela proliferação esmagadora de cheiros fabricados.
O mundo dos odores naturais foi cooptado por produtos; muitas pessoas não conseguem cheirar um eucalipto sem pensar em produto de limpeza.
Uma supersaturação dos cheiros químicos comprometeu nossa habilidade de apreciar odores naturais complexos e sutis.

Somos bombardeados por perfumes em lojas de departamentos que gritam sua presença, e permanecem monótona e insistentemente no corpo e no ar, mas a mágica verdadeira do perfume nos escapa.
Nós perdemos contato com aquilo que inicialmente conduz a nossa espécie a aromas de flores e ervas, e com sua rica história.


Paolo Rovesti escreveu uma crônica sobre o mundo perdido dos perfumes: " Nós, que estamos imersos na artificialidade da vida moderna, não conseguimos lembrar-nos, sem nostalgia ou tristeza, daqueles presentes que a natureza coloca à disposição do homem, hoje negligenciados ou em desuso
Dentre eles estão os paraísos perdidos dos perfumes naturais, dos perfumes do passado e do espírito"




Trecho retirados do livro de Mandy Aftel - Essencias e Alquimia :Um livro sobre Perfumes

Escrito por : ~* ~ Consultório de Afrodite ~*~
Imagens: Pinterest